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Maio, Mães, Medeia e Mitologia


Coluna Cultura & Literatura, por Madalena Fonseca - Jornal Folha Valle:

Maio é o mês das mães, então vamos falar sobre elas.

O mês parece girar em torno de uma unanimidade: as santas mães.
Queria falar só das virtudes das mães, como todo mundo faz, mas como dizia minha mãe, eu não sou todo mundo. Então começo dizendo que nem toda mãe se inspira na virgem Maria, há mães que são regidas por uma aura de Medeia. Acho que isso precisa ser lembrado, já que, não é por ser Medeia que deixa de ser mãe, e é dessa mãe Medeia que vou falar, porque das outras mães já tem muita gente falando.
Ah, sobre os pais podemos falar em agosto. Agora é a vez delas.

Medeia é uma figura da Mitologia Grega, filha de Eetes, rei da Cólquida (hoje República da Geórgia).
Medeia era uma princesa voluntariosa… Pode até ser que alguém faça polêmica do que vou dizer, seja por má fé ou por ingenuidade.

Em todo caso alguém precisa falar sobre as mães Medeia e também lembrar o sofrimento dos órfãos de mães vivas. É que muitos filhos que sobrevivem ao modelo Medeia de mãe, amargam traumas, tristezas, mágoas e muitas lágrimas são derramadas nos dias das mães.

Medeia traiu o próprio pai para agradar e conquistar de vez o seu amado Jasão, que após roubar uma relíquia do reino, fugiu da ira do rei Eetes e junto com Medeia embarcou para a Grécia. Medeia era tão, digamos, ‘psicopata’, que ao ver o navio do rei no encalço deles, atrás da relíquia roubada, mata o próprio irmão, Absirto. Depois, o esquarteja, manda o marinheiro seguir com velocidade e vai jogando os pedaços do irmão ao mar… Por quê? “Gravíssima pena pesa sobre todo aquele que, podendo, não dá sepultura em terra a um morto em alto-mar; assim, o rei vê-se obrigado a parar para recolher os pedaços do filho, que Medeia joga de tempos em tempos nas ondas revoltas. – Oh, mulher perversa… – bradam os homens de ambos os navios.” (Melhores Histórias da Mitologia – vol. 2 de A.S. Franchini e Carmen Seganfredo.) Assim ela ganha tempo e tem e sucesso na fuga. Medeia cometeu muitas outras atrocidades para proteger e manter Jasão ao seu lado, a vida seguiu…

Por fim, por conta das brigas e separação, para atingi-lo, ela matou os próprios filhos que teve com ele. Esse era basicamente o perfil de Medeia, e lembrem-se: mulheres assim também são mães. Os feitos de Medeia seguem descritos em vários livros, entre eles o já citado: As Melhores Histórias da Mitologia – vol. 2 de A.S. Franchini e Carmen Seganfredo.
Na minha percepção esse livro traz uma versão amena sobre as supostas intenções de Medeia ao envenenar os filhos. Em todo caso, essa versão mostra que Medeia usou os filhos para assassinar a filha do rei de Corinto, a princesa Creúsa, que se casaria com Jasão. Medeia, possuída de ódio por ter sido trocada, não mediu esforços para por em prática a sua sórdida vingança.E quantas mães não usam seus filhos de maneira até pior? Ou numa tortura Ad Aeternum cometem abusos, negligência, maus tratos, violência…Mães se sacrificam em benefício dos filhos, mas há as mães Medeia que sacrificam os filhos, em benefício próprio.Há mães que por não terem recursos mínimos para a sobrevivência, até se prostituem para mantê-los, e há as mães Medeia que jogam as suas crianças na prostituição para serem mantidas por elas.Há mães que largam seus parceiros para protegerem seus filhos, e há as mães Medeia que largam os filhos ao Deus dará, para ficarem com seus parceiros.Há mães que dão a vida por seus filhos, e há mães Medeia que levam os filhos ao desespero do suicídio.
A lista das mães Medeia e de seus crimes é grande. Precisamos saber identificar as mães, das mães Medeia.Saindo da Mitologia e entrando na história bíblica, vemos que Salomão soube distinguir uma mãe de fato, de uma mãe de araque, quando julgou a Causa das Duas Mulheres que tiveram filhos por volta da mesma ocasião.

Vamos relembrar esse caso.

Elas moravam na mesma casa, o filho de uma morreu, então a mãe do que morreu trocou os bebês, mas a mãe do bebê vivo notou que a outra mulher havia trocado as crianças; o morto pelo vivo. Então levaram o caso ao rei Salomão, e a discussão seguia: – o morto é seu filho, o vivo é meu e a outra dizia: – o vivo é meu o morto é seu, até que Salomão mandou vir uma espada e disse:

– “Dividi em duas partes o menino vivo e dai metade a uma e metade a outra. Então, a mulher cujo filho era o vivo falou ao rei (porque o amor materno se aguçou por seu filho) e disse: Ah! Senhor meu, dai-lhe o menino vivo e por modo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: Nem meu nem teu; seja dividido. Então, respondeu o rei: dai à primeira o menino vivo; não o mateis, porque esta é a sua mãe.” (1º REIS)

Eis aí a diferença: o amor materno.

Feliz mês das mães!

Madalena Daltro Fonseca é escritora, palestrante e mestre em Gestão e Auditoria Ambiental.

Contato para palestras: contato@motiveacaopalestras.com.br


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